Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
domingo, 27 de janeiro de 2013
Marcadores:
resenha
Por Goate
Na mitologia grega, Pigmaleão era um escultor que se apaixonou por
uma estátua que esculpiu ao tentar reproduzir a mulher ideal. Frustado por não
encontrar na ilha em que morava uma mulher que lhe fosse perfeita, apelou para Afrodite, e esta transformou
sua estátua em uma mulher de carne e osso.
É mais ou menos
assim, que iniciamos nosso diálogo com Ruby Sparks- A Namorada Perfeita. O
longa conta a história de Calvin, um blogueiro moreno, alto que cria um blog de
conteúdo nerd .... ESPERA, este sou eu.
Falando sério, Calvin Weir-Fields (Paul Dano- Pequena Miss Sunshine) é um prodigioso escritor que teve seu romance aclamado pela crítica e é reconhecido como a "voz de uma geração".
Alguns anos depois de seu apogeu Calvin sofre de um bloqueio criativo que o impossibilita de escrever uma única
linha. Parte do seu bloqueio vem da imensa dificuldade de interagir
com outras pessoas tornando-o uma pessoa solitária e incapaz de relacionar-se
com o sexo oposto. Esta dificuldade faz com que ele, a pedido de seu
psiquiatra, compre um cachorro, Scotty, que objetiva ser um facilitador
de novas amizades, já que seu único amigo é seu próprio irmão Harry
(Chris Messina - Julie &Julia).
O cão Scotty merece uma atenção especial, porque representa a psiquê do nosso protagonista. Ele absorve todos os medos e inseguranças vividos por Calvin, isto fica claro, quando o psiquiatra pergunta se a compra do cachorro alcançou o objetivo e tem como resposta: "Scotty se assusta quando tentam acaricia-lo ". Eis que neste instante seu psiquiatra pede que escreva sobre alguém que veja seu cão assustado, babando e goste dele mesmo assim.
Uma noite, Calvin
sonha com uma mulher que adora Scotty, e como pedido por seu psiquiatra, começa a escrever sobre ela: "a mulher dos seus sonhos". Certa
manhã, Calvin é surpreendido ao ver que a mulher “dos seus sonhos” está presente
em seu apartamento e é exatamente como escrito por ele. E assim, que conhecemos Ruby Spacks.
Neste ponto, a trama exige do telespectador uma suspensão de descrença, ou seja, não podemos ficar questionando como é possível que a mulher fruto da imaginação de Calvin esteja viva. Você deve simplesmente aceitar e pronto. Já que não nos é ofertado qualquer tipo de explicação e tal fato é encarado como um milagre ou dádiva em nome do amor.
Aceito o nascimento de Ruby, o casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie
Faris (Pequena Miss Sunshine) nos oferecem dois caminhos: assistir ao
longa despretensiosamente ou imergir fundo na história colocando-se
no lugar do protagonista. A segunda opção é a mais divertida
e perturbadora.
Claro que nosso protagonista acha que enlouqueceu e realiza uma série de testes, primeiro para confirmar se Ruby é real e outro para avaliar seu poder sobre ela. O teste de francês é simplesmente interessantíssimo. Após isso chega-se a seguinte conclusão: Ruby é real e tudo que se escreve sobre ela acontece instantaneamente. Após uma conversa franca com seu irmão, Calvin decide não usar sua "influência" em Ruby.
Só a premissa acima já gera um debate ético profundo e intermitente. Imagine leitor, você sendo capaz de controlar sua(seu) namorada(o), seus pensamentos, atos e sentimentos. O quão real seria este amor ?
Logo após isso vamos para a casa da mãe de Calvin interpretada por Anette Benning (Beleza Americana) e seu padastro interpretado por um fascinante Antonio Bandeiras . Neste segundo ato conhecemos um pouco mais de Calvin e toda suas imperfeições, imperfeições essas que são notadas por Ruby que gozando de seu livre arbítrio resolve redimensionar toda a relação do casal, gerando um desconforto em seu criador. Eis então que este resolve molda-la, escrevendo o que ela deve fazer ou sentir.
Entra agora em cena a dificuldade de criação da personalidade humana, se ela é muito carente, é ruim; se for muito independente, o sujeito pode ficar com ciúmes. Ruby não é perfeita porque seu criador não o é, o ser humano não é perfeito, não é estático. A personalidade, humor, atitudes mudam, evoluem em questão de segundos e estas mudanças são muito bem exploradas em tela. Se Calvin escreveu Ruby de modo que ela lhe fosse perfeita esqueceu de se reescrever de modo que ele fosse merecedor desta perfeição, ele muda Ruby mas, na verdade, o grande carecedor de mudança é ele mesmo.
Em um momento chave da trama temos um confronto entre criador e criatura que é simplesmente genial.
Enfim, o filme Ruby Spaks - a namorada perfeita, vai além de uma comédia romântica, ele imerge profundamente na alma humana e a deixa exposta em tela com todas as imperfeições e mazelas. Trata-se não de uma filme genérico, e sim, de um convite para a reflexão sobre quem é você e o que você esperada das outras pessoas.
Curiosidades:
- A atriz Zoe Kazan (Ruby) é a roterista do longa
- O ator Paul Dano já havia trabalhado com os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris em pequena Miss Sunshine, ele era o garoto que fez a promessa de não falar
- Zoe Kazané filha de Nicholas Kazan, roteirista que assinou “O Reverso da Fortuna”, e neta de Elia Kazan,
- Zoe Kazan e Paul Dano são namorados na vida real
0 comentários:
Postar um comentário